Antes de começar, um esclarecimento: quando este texto foi escrito, havíamos assistido até o episódio 7 do drama coreano Pergunte às Estrelas1. Portanto, a análise se baseia nesses episódios. Sigamos!
Um obstetra sul-coreano embarca como turista para uma estação espacial, mas esconde uma missão secreta. O que ele não esperava era cruzar o caminho da comandante perfeccionista da missão – e muito menos se apaixonar no meio do caos sideral.
Parece promissor, certo? No papel, sim. Mas uma história não se sustenta apenas por uma boa premissa. Ela respira na atmosfera que constrói, nos detalhes sensoriais, nos personagens que transformam letras frias em algo vivo.
Nós, meros espectadores, raramente refletimos sobre o árduo percurso que uma ideia percorre até se materializar na tela. O caminho do roteiro é tortuoso: de um lampejo criativo à versão final, ele precisa atravessar um campo de asteroides de revisões, debates e ajustes incessantes.
Não é novidade. O espaço já serviu de palco para tramas memoráveis, de 2001: Uma Odisseia no Espaço, com sua reflexão filosófica e visual hipnotizante, ao suspense aterrorizante de Alien: O Oitavo Passageiro. Interstellar mostrou que a vastidão sideral pode ser tão implacável quanto os dilemas humanos que ela amplifica. E recentemente, o kdrama O Mar da Tranquilidade2 trouxe uma abordagem tensa e intrigante, explorando mistérios lunares e dilemas científicos.
Mas o espaço não é generoso com qualquer história. Ele exige tramas bem amarradas, personagens cativantes e um universo crível. Porque, no fim das contas, não importa o quão fascinante seja a premissa: o que se impõe é o que chega à tela. Diante do julgamento da audiência e da crítica, não há gravidade que segure um roteiro fraco. E se as estrelas sempre foram um cenário acolhedor para narrativas inesquecíveis, é porque aqueles que ousaram viajar por elas souberam fazer jus ao infinito – e além.
Que fique claro. Ninguém assiste a um drama esperando seu fracasso. Quando apertamos o play, no fundo, queremos apenas aplaudir. E se as coisas não engrenam de cara, concedemos aquele tempo de benevolência para que o enredo se ajuste. No caso de Pergunte às Estrelas, essa paciência se estendeu por sete episódios. Mas… nada feito.
Antes de seguirmos, um combinado: a intenção aqui não é atacar o drama. Não faz parte do nosso estilo criticar gratuitamente. Nosso objetivo é outro – tentar entender. Porque, convenhamos, existe forma melhor de honrar uma obra do que se esforçar para compreendê-la?
É exatamente isso que faremos nesta newsletter. No DD&Fun!, assistir até o fim é regra básica. Só assim podemos avaliar com justiça. Obviamente, como o drama não se concluiu, encarem esta análise como uma exploração do tema. E quem sabe – estamos torcendo para isso – voltamos aqui mais tarde para dizer: "Lembra aquele drama que estávamos detestando? Pois é… agora estamos amando!"
Mas uma coisa precisa ficar clara: não gostar de uma história não é pecado.
Nossa opinião não é absoluta. No fim das contas, trata-se de subjetividade – ainda que temperada por oito anos de experiência assistindo a dramas coreanos. Mas não leia isso como arrogância. Não nos consideramos especialistas. Na verdade, sempre nos enxergamos como novatas nesse universo. Em resumo: não nos levamos tão a sério.
Antes de responder a pergunta sobre por que o enredo não nos pegou pela mão, um adendo: toda narrativa não precisa ser realista no sentido estrito. O realismo, na ficção, não se resume à fidelidade aos fatos, mas à coerência da experiência narrativa. Um enredo pode se desenrolar em um mundo mágico ou em uma lógica absurda, mas precisa de coesão interna. Só assim o público embarca sem questionar suas regras a cada cena.
Um roteiro bem escrito não apenas conta uma história – ele constrói um universo no qual essa história pode existir de forma plena. Nele, personagens e eventos não parecem deslocados ou superficiais. O roteiro ideal oferece mais do que palavras e descrições: ele cria uma experiência imersiva, emocionalmente envolvente e autêntica.
E é aí que Pergunte às Estrelas tropeça. Para não ficarmos apenas no abstrato, vamos aos pontos específicos: