Um Amor no Paraíso - Parte 1
Quando o cotidiano se torna símbolo de amor, sacrifício e resistência.
“Um Amor no Paraíso1” deixou uma impressão duradoura em nós. É um drama que não se esgota com a chegada dos créditos finais.
Há tantas mensagens de primeira ordem, sabe? Lamentamos que muitas pessoas tenham passado ao largo delas; que, tendo começado a ver, tenham desistido; ou que sequer tenham se proposto a assistir.
Raramente um drama se afasta tanto da narrativa tradicional dos k-dramas. Não apenas por tornar a vida após a morte um universo fantasioso crível, mas por dar forma humana à consciência.
Decidimos fazer uma análise mais detida dessa história, e ela será publicada em série aqui na newsletter. Vai levar uma temporada para destrinchar essa trama toda. Mas não importa: há muito prazer envolvido da nossa parte. Convidamos você a contribuir com o nosso trabalho, dedicando um tempinho para ler e, se quiser, conversar com a gente. Desde já, agradecemos.
O começo não é no céu
Um Amor no Paraíso é um drama coreano sobre um reencontro improvável: depois da morte, um casal se encontra no céu. Ele, nos seus 30 anos; ela, nos seus 80. Mas antes do paraíso, houve uma vida inteira. É nela que o drama se rende, revelando uma protagonista que carrega a história nos ombros, no coração… e no guarda-chuva.
Hae-Sook não é apenas o centro da narrativa. Ela é seu cofre e sua chave. A história vive nela como um segredo guardado no fundo do mar. É por seu coração e por suas escolhas que a trama vai, pouco a pouco, se revelando.
Onde esperaríamos uma cadeira de balanço e um crochê, há um desvio. Sim, é uma ahjumma idosa quem nos encara. Mas não à imagem da vovozinha tradicional.
Logo na primeira cena, somos lançados ao inusitado: a senhorinha enfrenta uma máfia de agiotas. O alvo? Um rapaz endividado. E o que ela faz? Interrompe a violência com um gesto surpreendente. Diz ser mãe do jovem e assume a dívida em seu lugar. Entrega-se como sacrifício. E, com isso, desarma a concorrência.
Concorrência? Sim. Hae-Sook vive cobrando uma fila de devedores. O rapaz, naquele instante, foi “adotado” como filho temporariamente, por conveniência e... compaixão. Essa ambiguidade, a mistura de doçura, acidez e resistência, vai acompanhá-la até o fim.